FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo, (noticias.uol.com.br).
No mês da saúde do
homem vale lembrar que, além do câncer de próstata, há outro tipo da doença que
atinge a população masculina de forma dramática: o câncer de pênis.
Embora estima-se que
a incidência seja muito menor do que o da próstata, esse câncer exige,
muitas vezes, a amputação do pênis. A metástase também costuma ser frequente
nesses homens já que eles tendem a demorar para procurar tratamento. E o
aumento de casos de câncer de pênis no Nordeste do país faz sua
incidência ser considerada um problema de saúde pública.
Segundo o Inca
(Instituto Nacional do Câncer), o tumor peniano representa apenas 2% dos casos
de câncer entre os homens brasileiros, enquanto o de próstata é o segundo
câncer mais prevalente entre eles (só perde para o de pele não-melanoma). Em
2013, o câncer de pênis matou 396 homens no país, enquanto o de próstata tirou
a vida de 13.772.
"O número de
casos no Brasil é alto e subnotificado. Deve ter muito mais, mas não se
sabe nada de estatísticas nacionais. São mil amputações por ano no Brasil,
número semelhante só ao de Uganda", diz o urologista José de
Ribamar Calixto, secretário da Sociedade Brasileira de Urologia, que atua
no Maranhão. O Inca não confirma o total de amputações no país.
Falta de higiene.
A doença é causada
principalmente pela falta de higiene no órgão sexual e tem forte
prevalência em homens com fimose (quando o estreitamento na abertura do
prepúcio, a pele que reveste a glande, impede que ela seja exposta). Estudos
científicos sugerem que a doença também está associada a infecção pelo vírus
HPV.
O tumor no pênis
acomete principalmente homens que vivem em regiões rurais, com pouca cultura e
que só procuram ajuda quando o pênis já está muito ferido, às vezes com o tumor
exposto, saindo sangue e pus.
"É um flagelo
porque esses homens procuram tratamento quando o pênis já está apodrecendo.
Temos que amputar, mas às vezes a doença já se espalhou pela região genital e
perfurou artérias. É um grande problema sócio-econômico e cultural no
Brasil, principalmente no Nordeste", diz Franz Campos, chefe da
sessão de Urologia do Inca.
Para Campos, medidas
simples como a circuncisão evitaria o câncer de pênis. Ele
sugere que a técnica seja adotada nas maternidades do país, embora
saiba que isso geraria um custo ao SUS.
Outra forma de
melhorar o diagnóstico e o tratamento seria aumentar a atenção sobre a doença
cujo número de casos não é relatado com rigor, o que trava investimentos em
pesquisa e remédios.
"Como não
sabemos a real incidência de casos porque não há notificação compulsória, a
doença é muito pouco estudada e o tratamento não avança. Usamos as mesmas
drogas e o mesmo tratamento há 30 anos", diz Costa.
Maranhão: 3 amputações por
semana.
Segundo Calixto, mais
de 60 amputações de pênis foram feitas em São Luís (MA) em oito meses deste
ano, o que é considerado um "número altíssimo".
"Sabemos que é
um câncer frequente no Nordeste, principalmente no Maranhão, na Bahia, no Piauí
e em Pernambuco. Em São Luís (MA) são três amputações por semana, em
média", afirma.
Calixto que é
professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), onde estuda a doença há
20 anos, montou um ambulatório no hospital da universidade para tratar
pacientes com esse tipo de câncer, devido ao número crescente de casos.
"Os homens com
câncer de pênis aqui no Maranhão vêm de cidadezinhas onde trabalham no campo,
têm pouca instrução e não lavam o pênis com regularidade, mantendo por muito
tempo feridas na cabeça do pênis. A grande maioria chega ao SUS com grau avançado
da doença, que exige amputação porque o tumor já corroeu pelo menos metade do
órgão", diz Calixto.
Além do ambulatório,
Calixto e uma equipe de oncologistas e geneticistas fazem um estudo na UFMA que
procura encontrar as causas genéticas do câncer de pênis, já que a incidência
de metástase (quando o câncer se espalha) é alta.
O estudo ainda em
fase inicial pretende analisar 200 homens com a doença até 2017 e analisar os
marcadores genéticos que podem indicar as causas da metástase. Entre um grupo
de 60 homens já participantes da pesquisa, 54 tiveram o pênis amputado.
Causas, sintomas e
tratamento.
O câncer de pênis
inicialmente não apresenta sintomas, mas tem como causa principal o acúmulo de
secreções na glande. Essa 'sujeira' pode evoluir para uma infecção que se
transforma em ferida. Se não curada, vira um tumor que aos poucos vai
lesionando a região.
Mas sua prevenção é
simples, bastando lavar a cabeça do pênis com água e sabão, puxando a
pele, na hora do banho, depois da masturbação e depois de ter relações sexuais,
além de usar camisinha para evitar a infecção pelo HPV.
Outro problema é que
a quimioterapia e a radioterapia pouco funcionam nestes casos, por isso a
amputação parcial ou total é frequente.
Por isso, em caso de
vermelhidão ou feridas no pênis, o ideal é procurar um urologista. Se o tumor
for pequeno, o câncer pode ser eliminado com cirurgia.
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