Pesquisadores produziram um analgésico opiáceo a partir da manipulação genética da levedura, num processo complexo que permitiu sintetizar em poucos dias um componente do ópio, de acordo com um trabalho publicado na quinta-feira (13).
Este novo avanço, que segue outro relatado nos últimos meses neste campo de pesquisa, abre o caminho para um novo método de produção muito mais rápido e potencialmente menos caro de medicamentos derivados de plantas, de acordo com os cientistas da Universidade de Stanford, Califórnia.
O estudo foi publicado na revista americana Science.
Na publicação, os pesquisadores descrevem como conseguiram reprogramar geneticamente a levedura usada há milênios na fermentação de vinho e cerveja para que estas células de crescimento rápido transformassem em apenas três dias o açúcar em hidrocodona, um derivado dos opiáceos.
O processo industrial leva atualmente cerca de um ano entre a colheita da papoula legalmente cultivada e a produção de analgésicos por laboratórios farmacêuticos, segundo os pesquisadores.
A hidrocodona e produtos químicos similares, tais como a morfina e a oxicodona, fazem parte de uma família de analgésicos derivados do ópio extraído a partir do látex da papoula.
As quantidades produzidas ainda são mínimas. São necessários 16.600 litros de levedura tratada com esta técnica de engenharia genética para produzir uma única dose de hidrocodona, de acordo com os cientistas.
Eles afirmam, no entanto, que a experiência mostra que é possível manipular geneticamente a levedura para obter medicamentos derivados de plantas, ressalta Christina Smolke, professora de bioengenharia na Universidade de Stanford e diretora da pesquisa.
A produção de artemisinina contra a malária a partir de levedura geneticamente modificada foi o primeiro grande sucesso da bioengenharia para produzir uma droga que anteriormente só era produzida a partir da artemísia.
Deste modo, um terço da produção mundial de artemisinina foi transformada nos últimos dez anos e vem da biotecnologia.
Para fabricar artemisinina, o processo é relativamente simples: exige a inserção de apenas seis genes na levedura. Mas para a hidrocodona é muito mais complexo. Os cientistas tiveram de recorrer a 23 genes para criar a fábrica de células capazes de produzir o derivado.
"Este é o processo de biossíntese química mais complexo já realizado com fermento", segundo a professora Smolke.
Sua equipe utilizou e refinou fragmentos de DNA a partir de outras plantas, bactérias e até ratos, que foram inseridos na levedura para a produção de todas as enzimas necessárias para converter as células de açúcar em hidrocodona.
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