Remédio barato, usado
como antibiótico há mais de cinquenta anos, consegue reverter quadro inicial da
osteoporose, a osteopenia. O
achado é da equipe da USP campus de Ribeirão Preto e da Unesp em Araçatuba e
foi publicado em edição da revistas
Scientific Reports, do grupo Nature. No artigo, os pesquisadores descrevem que
a doxiciclina paralisa "a reabsorção óssea e, ao mesmo tempo, promove
remodelação do osso em animais afetados pelo problema."
Fellipe Augusto
Tocchini de Figueiredo, pesquisador da FORP (Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto) da USP e responsável pelo estudo, conta que trataram um modelo
animal de osteopenia (ratas) com 20 mg de doxiciclina, duas vezes ao dia (dose
com efeito anti-inflamatório; a dose antibiótica é de 100 mg/dia). A osteopenia
é considerada a fase anterior da osteoporose, quando existe diminuição da massa
óssea considerada normal.
Os resultados, após
seis meses de tratamento, mostraram que a subdose de doxiciclina impede a
degradação, ao mesmo tempo que promove formação de novo tecido ósseo. O modo
como a droga realiza esse reparo ainda é incerto, mas o estudo sugere que a
medicação "leva minerais, como cálcio, magnésio e zinco, do soro sanguíneo
para os ossos, enriquecendo-os. Dando uma espécie de complexo mineral para
ficarem mais fortes", diz Figueiredo.
A reversão da
osteopenia no modelo animal foi animadora até pelo fato de os atuais
tratamentos apenas pararem o avanço da doença. São resultados positivos, confirmados
em 15 análises diferentes.
Como foi uma
experimentação longa - os animais receberam as doses durante 60 dias -, a
expectativa é de segurança. O pesquisador informa que é comum em outros países
a utilização de subdoses da doxiciclina para tratamento de longo prazo (seis
meses a dois anos) da doença periodontal.
Mesmo assim não se pode
falar em segurança de uso da droga ou cura da osteoporose, alerta Figueiredo.
Mais estudos e, principalmente, testes clínicos precisam ser realizados.
Envelhecimento
da população estimula pesquisas.
Mulheres após a
menopausa e pessoas idosas, por exemplo, podem sofrer com a redução da massa
dos ossos não acompanhada da natural renovação desses tecidos. Asseguram os
especialistas que, nessas pessoas, a osteopenia é tida como um alerta para a
futura osteoporose, esta sim responsável pelo aumento do risco de fraturas
ósseas.
O envelhecimento da
população e consequente aumento dos casos de osteoporose levam autoridades de
saúde a indicar dietas balanceadas e práticas de exercícios físicos como
prevenção da doença. Mas respostas medicamentosas de baixo custo são bem-vindas
e o pesquisador da USP acredita estar no caminho certo, por isso as pesquisas
com a doxiciclina.
A ciência já conhecia o
efeito da doxiciclina sobre a remodelação óssea; como "é uma molécula com
forte afinidade ao cálcio, a droga tem ação no equilíbrio entre formação e
reabsorção de osso", comenta o pesquisador. A novidade agora é o
"potencial de reverter a osteopenia, o que seria extremamente benéfico
para a sociedade, caso seja confirmado em humanos".
A reabsorção óssea é
uma ação natural do organismo, que degrada o tecido do osso para renová-lo.
Esta atividade é induzida por enzimas chamadas Metaloproteinases da Matriz
(MMPs) - moléculas do organismo que deterioram substâncias que constituem os
ossos. "Em patologias ósseas, como a osteoporose, estas enzimas estão
aumentadas em número, indicando que há um processo inflamatório presente",
conta o pesquisador.
E a doxiciclina age
justamente inibindo a ação dessas enzimas. No caso deste estudo, os
pesquisadores verificaram que a droga impediu que as MMPs destruíssem o
colágeno que compreende grande proporção dos ossos. O tratamento com as
subdoses controlou a "inflamação e facilitou a remodelação óssea normal"
nos animais com osteopenia.
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