O
estresse é um estado familiar: cansaço, tontura, alergias, gastrite,
dificuldade para dormir, baixa imunidade e mudanças de apetite são alguns dos
sintomas físicos comuns à condição, aos quais as pessoas têm se acostumado
sentir, de tão presentes em seu cotidiano. Mas muitos não sabem, por ser uma
consequência “invisível” desse quadro, que esse contexto de esgotamento pode comprometer a fertilidade e diminuir as chances de se ter um filho.
Isso
porque essa resposta emocional está ligada à produção de hormônios, que afeta
diretamente as funções do corpo. O hipotálamo, região cerebral responsável por
orquestrar os processos metabólicos e diversas outras funções autônomas, tenta
equilibrar as atividades sexuais e neuronais reagentes ao estresse, fazendo com
que os efeitos no corpo se relacionem.
Então,
uma pessoa sob constante irritação tem reações neuroquímicas encarregadas de
“blindar” o corpo contra influências externas que poderiam prejudicar o
organismo. O cortisol, hormônio secretado em situações estressantes, pode
alterar a qualidade ovulatória, os ciclos menstruais e as possibilidades de
implantação do embrião recém-formado no útero. Isso pode dificultar a gravidez
e aumentar a chance de um aborto. Algumas mulheres deixam até de menstruar. Nos homens,
além da falta de libido e de ereção, as consequências caem sobre a produção de
espermatozoides: a quantidade, qualidade e mobilidade deles podem ser
comprometidas.
Um
panorama comum observado na reprodução assistida é como os fatores de ansiedade podem ficar mais
evidentes. Quando os pacientes se veem frentes à possibilidade de não conseguir
ter seu filho, eles podem apresentar um quadro de tensão e expectativa nada
favoráveis para a eficácia do tratamento.
No
fim de 2016, foi publicada uma pesquisa na revista científica Psychoneuroendocrinologysobre
como o cabelo das mulheres pode predizer o sucesso ou não de uma fertilização in vitro (FIV). Conduzido no Reino Unido pela Universidade
de Nottingham, o estudo encontrou relação direta entre os níveis de
cortisol encontrados nos fios e a probabilidade de conceber com uma FIV. Quanto
menos hormônio, maiores as chances. Ou seja, quanto menos estresse, melhor é o
cenário para engravidar.
Algumas
terapias, como ioga, meditação e massagens propiciam bem-estar físico e
psicológico, tanto para homens quanto para mulheres. A acupuntura, cada vez
mais popular aqui no Brasil, tem sido procurada há anos por quem está em
tratamento de reprodução humana, justamente por se mostrar bem-sucedida em
auxiliar pacientes a diminuir os incômodos de alguns procedimentos.
Ser
mãe ou pai é uma questão muito sensível para algumas pessoas – e lidar com
esses anseios acaba se mostrando um processo complicado. Por isso, o
acompanhamento psicológico é muito bem-vindo para evitar o surgimento de um
estresse acentuado e aumentar as chances de sucesso dos tratamentos.
*** Dr. Maurício Chehin -
é doutor, médico colaborador do setor integrado de reprodução humana da
Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM) e
especialista do Grupo Huntington, de São Paulo.
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