Ao
mesmo tempo em que inúmeras pesquisas vêm apontando um preocupante aumento das
taxas de sobrepeso e obesidade no Brasil e no mundo, também ocorre um crescimento
absurdo de ofertas de dietas de emagrecimento e, boa parte delas, com a conotação de
“milagrosas”.
É
importante ressaltar que muitas delas podem gerar riscos para a saúde, pois
trazem recomendações que carecem de embasamento científico, que variam de
jejuns intermitentes a restrições de alimentos e ingredientes como glúten,
lactose e açúcar. Somado a isso, existem aqueles que defendem teorias
classificando alimentos em “bons” e “ruins”.
Esses
modismos e posicionamentos empíricos sobre alimentação não promovem uma
adequada orientação, muito menos trazem o entendimento de que o que leva à
perda de peso ou prevenção da obesidade é o controle de calorias e educação alimentar,
desde a infância, e não a proibição de nutrientes ou alimentos específicos.
Vamos
entender melhor a educação alimentar. De forma
objetiva, isso significa ensinar crianças e adolescentes a comerem de forma
diversificada, com equilíbrio e sem restrição. Inúmeros estudos comprovam que
uma das principais causas da obesidade é o consumo excessivo de alimentos sem
gasto energético proporcional. Desde a infância, as pessoas vêm gradativamente
perdendo a noção de saciedade, comendo em quantidades muito superiores ao que o
organismo necessita, pouca variedade de alimentos e, muitas vezes, fora dos
horários corretos das refeições.
Além
disso, a alimentação não deve ser imposta pelos pais ou profissionais de saúde
como algo fixo, restrito, que gere sacrifícios. Deve ser algo planejado
conforme as preferências da pessoa e, principalmente, levando em
conta, hábitos e costumes, respeitando aspectos culturais – tudo com muito
bom senso e, claro, com o equilíbrio nutricional necessário.
Isso
também é importante quando se trata de alimentos equivocadamente classificados
como vilões – como os açúcares, por exemplo. Há uma crença de que cortar
carboidratos é a fórmula mágica para se emagrecer e combater a obesidade.
Errado! O organismo precisa dos açúcares para produção de energia. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que sejam ingeridos até 50 gramas
diárias do ingrediente – o que corresponde a seis colheres de chá. Para se ter
uma ideia, isso representa cerca de seis quadradinhos de chocolate ao leite ou
seis xícaras de chá de cereais matinais ou, ainda, a três fatias de bolo. No caso das crianças, esse número
cai para 25g, de acordo com orientação
da Academia Americana do Coração.
Por
isso, se não houver um esforço real entre governo, educadores, especialistas e
médicos em priorizar programas de ampla informação e conscientização do público
sobre educação alimentar e incentivo à pratica de atividades físicas, medidas
como taxação de bebidas açucarados, redução de açúcar nos alimentos
industrializados e rotulagem, dificilmente iremos atingir os resultados
esperados.
*** Dr. Hugo Ribeiro.
É
pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia, professor da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fellow em
Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel, em New York, e coordenador e
pesquisador do Centro de Pesquisa Fima Lifshitz da UFBA
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