FONTE: Gabriela Guimarães e Carolina
Prado, Colaboração para o
UOL (http://estilo.uol.com.br).
Uma hora, ele é incrível. Na outra, agressivo, mas
logo cerca você de carinhos e declarações de amor, tentando limpar a barra pelo
mal que causou. Agressores são cruéis, mas têm a capacidade de ser generosos e
atenciosos, o que torna mais difícil identificá-los. Por isso, se livrar de um
relacionamento abusivo é tão complicado.
“Tá louca?”
Relação abusiva nem sempre tem agressão é física.
“A agressão psicológica causa tanto dano quanto as corporais. As atitudes podem
se revelar por meio crises de ciúmes, ataques verbais, manipulações, proibições
etc.”, afirma Ane Caroline Janiro, psicóloga pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie de São Paulo.
Foi o abuso psicológico, por meio do
"gaslighting" (quando o agressor distorce informações, fazendo a
vítima duvidar da própria sanidade) e da constante depreciação, que acabou com
o casamento de 15 anos da administradora de empresas Karine, de 42 anos, que
prefere não revelar o nome real.
“É difícil medir o tempo de abuso. É muito
sorrateiro. Tem
picos, as desculpas, declarações. Cheguei a duvidar de mim mesma. Ele dizia que
eu era ciumenta, louca, exagerada. Eu sempre ficava com o peso da culpa”.
Quando a poeira baixava, vinham as promessas de uma vida melhor, mas durava
pouco.
Um ciclo perigoso.
Esses altos e baixos são extremamente comuns e
configuram o que os especialistas chamam de “ciclo de agressão”. A estratégia
de quem agride é deixar a vítima em constante estado de tensão, por meio de
ameaças e comportamentos explosivos. Porém, quando o agressor percebe as
tentativas da mulher de encerrar o relacionamento, é comum que manifeste
arrependimento e afeto, para fazer parecer que a violência foi um episódio
isolado.
A jornalista Camila Caringe e Silva, 30 anos, viveu um relacionamento abusivo com um amigo de infância. O namoro durou três anos, mas ela demorou para entender o que passava. “Essa longa convivência dificultou o meu discernimento em relação ao que ele fazia comigo, sobretudo antes de a violência ser grave”, conta. Depois de cada ataque, ele mudava.
A jornalista Camila Caringe e Silva, 30 anos, viveu um relacionamento abusivo com um amigo de infância. O namoro durou três anos, mas ela demorou para entender o que passava. “Essa longa convivência dificultou o meu discernimento em relação ao que ele fazia comigo, sobretudo antes de a violência ser grave”, conta. Depois de cada ataque, ele mudava.
“Após um
episódio agudo de agressão, vem a lua de mel", conta. Mas, entre uma volta e
outra, as agressões foram se tornando piores. “Ele chegou a falar que me
mataria, com as mãos em volta do meu pescoço”. O que a mantinha ao lado de seu
agressor era a admiração que ainda tinha por ele.
“Ele também teve atitudes generosas. É simpático,
trabalhador, inteligente. Isso torna a cena confusa”, diz. A dúvida acabou
quando ela se viu em um hospital, precisando de atendimento médico, após
receber chutes.
Lado A, lado B.
“O homem que abusa da parceira pode ser educado e
gentil. Com
todas as outras pessoas, ele é ótimo, mas é extremamente violento com a
companheira, no espaço privado”, explica Aline Yamamoto, advogada pela
Universidade de São Paulo, pós-graduada em Direitos Humanos e Mulheres pela
Universidade do Chile.
A descrição se aplicaria muito bem ao companheiro
da advogada Isabela Guimarães Del Monde, 31 anos, que sofria abuso psicológico
constante. “Não entendia como alguém que me amava poderia me tratar de forma
tão raivosa e contraditória. Meu ex tinha raiva do meu sucesso profissional,
dos amigos, da família e menosprezava minhas conquistas”, conta.
Para superar a violência, ela contou com
acompanhamento psicoterápico e apoio em grupos feministas. “Perceber que eu não
era a única a passar por aquela situação foi libertador. Finalmente eu parei de
achar que era louca, como meu agressor tentava me fazer acreditar”, diz.
Como sair dessa?
- Não
aceite comportamentos violentos, sob nenhuma justificativa. Aos primeiros sinais de
violência (falas, demonstrações de posse ou ciúme, por exemplo), diga que
não admite ser tratada daquela forma. Aproveite para deixar bem claros os
seus limites.
- Seja
realista e acredite que não está sozinha: é possível denunciar a
agressão ou pedir ajuda pelo “Ligue 180”.
- Mesmo
que você não esteja em um relacionamento abusivo, converse com amigas sobre o assunto.
É importante difundir a informação entre as mulheres.
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