FONTE: Thiago Varella, Colaboração
para o UOL
(http://estilo.uol.com.br).
Por causa do adjetivo esclerosado, muita gente
ainda acha que a esclerose múltipla afeta pessoas idosas, acelerando o processo
de senilidade. Não poderiam estar mais enganados. A doença, hoje, tem o pico de
predominância em jovens, entre 20 e 35 anos, principalmente mulheres.
Para este dia 30 de agosto, dia Nacional de
Conscientização à Esclerose Múltipla, o UOL conversou com dois
neurologistas para explicar o que é a doença e, principalmente, desvendar
alguns mitos e confusões que muita gente faz em relação à esclerose múltipla.
Afinal, o que é a doença?
A esclerose múltipla é uma doença autoimune. O
sistema imunológico do doente identifica a bainha de mielina, que é o
revestimento dos neurônios, como um agente estranho e a ataca. Isso acaba
dificultando a transmissão do impulso nervoso. "Como a doença afeta a
condução do impulso, todos os sintomas tem relação com esse impedimento da
condução nervosa", explicou o médico Rodrigo Thomaz, neurologista do
Hospital Israelita Albert Einstein. Por isso, os sintomas da doença são muito
variados.
Para alguns, começa na visão. Um dos olhos começa
a falhar ou aparece uma mancha escura, seguida de dor. É a chamada neurite óptica.
Outro sintoma pode ser o desequilíbrio, por causa de lesões no tronco
encefálico. O paciente também pode sentir tontura persistente, dores faciais e
perder força nos membros.
Não, a maior parte dos doentes são jovens entre
20 e 35 anos. A incidência também é maior em mulheres, com o dobro de casos do
que homens. "O termo esclerose pode remeter a uma pessoa idosa. No
entanto, esclerose significa endurecimento de tecido, apenas isso. A esclerose
múltipla atinge mais frequentemente adultos jovens. Crianças e pessoas com 45,
50 anos também podem ter a doença, mas é muito mais raro", explica Thomaz.
A doença leva à demência?
Essa é mais uma confusão que muita gente faz com
o termo esclerosado. "Antigamente, demência por arterioesclerose era a
mais comum. Isso antes do mal de Alzheimer. Por isso, quem sofria de problemas
relacionados à demência era chamada de esclerosado", explicou o médico
Mauricio Hoshino, neurologista do Hospital Santa Catarina.
No entanto, apesar de os sintomas físicos serem
mais frequentes, como fadiga, formigamento, perda de força muscular e
dificuldades para andar, muitos pacientes também sofrem com problemas de
cognição. Não é raro ver pacientes como dificuldades de memória, de atenção e,
principalmente, na velocidade do processamento de informações dentro do
cérebro.
Se isso ocorrer no começo da doença, nos
primeiros episódios de surto, a chance desses problemas serem revertidos é
grande. Conforme o tempo vai passando e o número de lesões aumentar, fica mais
difícil se recuperar totalmente.
"Ao contrário do que muitos acham, os casos
de forte declínio intelectual são vistos apenas em poucos pacientes e somente
depois de muitos anos da doença e uma forte carga de lesão", afirma
Hoshino.
Quem tem esclerose múltipla está condenado à cadeira de
rodas?
O paciente pode ter uma vida absolutamente ativa
e produtiva, mesmo com esclerose múltipla. A doença não é atestado de óbito ou
de invalidez.
"Não é uma doença tão rara. O que acontece é
que muita gente não diz abertamente que sofre de esclerose múltipla por conta
do preconceito. Mas os casos de pacientes com vida ativa é grande", contou
Hoshino.
O importante é que a doença seja detectada
precocemente e que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível. Quanto
menos surtos tiver o paciente, melhor para que, no futuro, fique sem sequelas.
Como os remédios fazem muito mal, vale a pena investir em
tratamentos alternativos?
Existem vários remédios usados no tratamento de
esclerose múltipla, como os imunomoduladores e imunossupressores, por exemplo.
Muitos causam efeitos colaterais que, de fato, incomodam os pacientes. Os
efeitos colaterais mais comuns vão de enjoo a mal-estar, dependendo do remédio.
Muitas vezes, o doente se sente bem, sem nenhum
tipo de sintoma, sem fazer nenhum tipo de tratamento. Isso porque a doença
depende muito de paciente para paciente. Animados com essa melhora, muitas
vezes inexplicável e temendo efeitos colaterais, alguns doentes decidem
interromper o tratamento convencional para adotar exclusivamente um método alternativo
--por exemplo, a ingestão de superdoses de vitamina D.
Para o médico Rodrigo Thomaz, essa atitude é
arriscada. "Pode haver uma falsa percepção de que o tratamento alternativo
está fazendo efeito. O período assintomático pode ser grande. O surto pode
parar. Daí se tem a falsa impressão de que a terapia alternativa pode estar
dando certo", alertou Thomaz.
"No entanto, o medicamento indicado pelo
médico vai modulando a imunidade. O paciente tem de acreditar que o remédio foi
desenvolvido para o bem. Com o tratamento convencional, as pessoas têm menos
surtos e vão ficar menos debilitadas no futuro", completou.
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